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Texto de apresentação

F RANCISCO AZEVEDO é autor de quatro romances que abordam as relações familiares, seu tema preferido. Segundo ele, é “na família que começamos nossos aprendizados e nossas limitações” e, por isso, escrever sobre ela é revisitar a própria existência, algo que ele oferece também aos seus leitores.

Agora, neste O fio condutor, Francisco nos propõe uma ousadia: alargar os limites desse “seio familiar” até… as fronteiras do Brasil. E é pelas mãos de um Brasil narrador, sábio, amoroso, inclusivo e consciente de sua própria história – é verdade, acredite – que conhecemos todas as suas personagens.

Sem saber, a adolescente Inaiê e o menino Caíque seguem a voz desse Brasil que narra suas vidas quando se encontram pela primeira vez. Ela, cantando na rua em troca de dinheiro; ele, perambulando sem destino, à espera de uma oportunidade qualquer – um bico, uma comida, um trocado, um carinho. Os dois se cruzam num largo movimentado no centro de uma cidade grande. Por todo lado, pessoas passando sem se olharem. Mas os dois estão predestinados a uma conexão muito maior do que pode parecer à primeira vista.

Mistura de três raças

Inaiê mistura em seu sangue três raças. Tem uma voz inconfundível, abençoada por todos os seus ancestrais. Caíque não se lembra direito de como veio parar ali, mas é guiado por um Algo Maior que lhe dá carisma e estrela, que nem as enchentes, a falta dos pais e da escola podem apagar. O destino dos dois se tecerá pela mão dos orixás, nas igrejas e nos templos, na união das aldeias indígenas e no ritmo da música popular.

À medida que crescem, Inaiê e Caíque serão aqueles capazes de falar a língua dos anjos e dos homens, de enxergar esse fio condutor que os une a todos os outros: pais e mães, avós e avôs, ainda que mortos ou trancafiados em ilusões de preconceitos e exclusão, e muitos, muitos, muitos outros.

Tudo parece tão conectado, que logo a razão nos diz que os tempos de hoje estão mais para a distopia do que para a utopia. Mas será mesmo? Ou será que apenas não conseguimos ver?

Francisco Azevedo não dá ouvidos à razão e nos leva pela mão, fio condutor que é, pedindo a seus leitores a coragem do rio que se deixa desaguar no oceano.

Assim como a literatura e a arte já anteciparam muitas vezes avanços tecnológicos e conquistas científicas, quem sabe em O fio condutor antecipemos a vida de paz, harmonia e conexões solidárias com que tanto sonhamos. Tudo real, sem poderes mágicos nem fantasia.