Por meio de amoroso acerto familiar e pela generosidade de meus pais, fui criado e formado por minha avó materna. Para mim, uma bênção, uma dádiva: nosso cotidiano, nossas conversas intermináveis, nossos medos confessados, nossa cumplicidade. Ela e sua sabedoria, sua paciência, seu senso de justiça. Eu e meus questionamentos, minhas inquietações, minhas opiniões radicais. Em 1966, viajamos pela Europa. Quatro meses de muito aprendizado e belas descobertas. Moramos juntos desde que nasci até o dia de sua morte, em 26 de janeiro de 1974. Em novembro do mesmo ano, já como diplomata, saí do Rio de Janeiro para viver em Brasília e depois no exterior. Quis, assim, o destino, que minha avó se despedisse de mim antes que eu a deixasse. Em sua súbita partida, vi novamente uma bênção, uma dádiva. Apesar da dor.

Maria da Soledade, minha avó materna

Na crônica que escrevi para o jornal “Pernambuco” – em novembro de 2012, por ocasião de minha participação na Fliporto (Festa Literária de Pernambuco) – conto como fui apresentado à obra de Gabriel García Márquez naqueles meus meses de luto.


Daqui vamos para 1967, quando ganhei um prêmio que tem, pra mim, um valor histórico e afetivo.