Morava em Washington, quando decidi deixar a carreira diplomática. Não tinha ideia do que iria fazer. Sabia apenas que aquela rotina já não me felicitava nem me satisfazia a curiosidade. A consciência de que a vida é um estalar de dedos me deu atrevimento para mudar de rumo e me aventurar em algo novo. O mais difícil foi abrir mão do convívio com os muitos amigos na Casa. Ponderei comigo mesmo que, ainda que permanecesse no Itamaraty, nossas constantes mudanças de posto iriam obrigatoriamente nos separar. Fora da carreira, teria até mais liberdade para estar com eles.

Nesse momento de ruptura, a música que me marca: Urgent, do Foreigner. E três leituras me inspiram: Walden, de Henry Thoreau, The razor’s edge, de Somerset Maugham e The dharma Bums, de Jack Kerouac – os livros me são dados de presente por colegas de posto que confiam na minha decisão e torcem por mim. Tudo vai muito rápido. O ofício (imagem acima) com o pedido de agregação, assinado pelo chefe do posto, embaixador Alarico da Silveira Junior, segue para a Secretaria de Estado no dia 7 de julho. No primeiro fim de semana, estou em Nova York comemorando com amigos. E já no sábado, dia 11, conheço minha mulher Edvane – companheira e cúmplice desde o início. É tempo de recomeço e de libertação: o Bom Tempo sonhado por mim em Contra os Moinhos de Vento.


Daqui vamos para 1982, ano em que começo a escrever roteiros para documentários, vídeos institucionais, comerciais de televisão